quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Clube Contadores de Histórias



Bolo-Rei
Todos os anos, quando os velhos Reis Magos acabam de atravessar pequena estrada de areia que se esboça entre caminhos de musgo e lagos feitos de bocados de espelho partido; quando a estrela de prata que se suspende entre os dois exemplares de “A Paleta e o Mundo” de Mário Dionísio se recolhe para regressar à velha caixa de papelão, com trinta anos de viagens, cheia de bocados de jornal amachucados que ainda guardam notícias de dias que já foram e onde se embrulham os cordeirinhos, os pastores, as oferendas várias que o Menino Jesus recebeu, apesar de já lhe faltar a mãozinha direita que alguém partiu em excesso de limpeza; todos os anos, dizia, recordo a história que o Fernando Midões me contou, certa tarde em que misturámos poemas com lágrimas.
De calças à golfe, lacinho à Baptista Bastos, fato de ver a Deus e celebrar o Dia de Reis, Fernando foi com a mãe jantar a casa das senhoras, gente de talher de prata, criadas de avental branco e crista engomada, cheias de silêncios e reverências.
Com olhos de amora madura, esse sorriso que ainda hoje conserva, sempre molhado de uma melancolia que tem de adivinhar-se mais do que ver-se, Fernando entrou na sala de jantar das anfitriãs, cujas portas só o espírito natalício abria, raros que eram os gestos de caridade e partilha. Assim se explicava a presença do rapazinho e sua mãe, viúva recente e que ali trabalhava de manhã à noite, para que a vida se assemelhasse ao que já fora.
Servidos os manjares da época: a canja onde as bolhas de gordura lembravam pequenos sóis fumegantes, o leitão de maçã vermelha na boca que olhava Fernando em gritos de sufoco que só ele, poeta em germinação, conseguia ouvir; os fritos vários que nas travessas exibiam a abastança, chegou finalmente e foi colocado em lugar de honra, no centro da mesa, ladeado por dois castiçais onde as velas vermelhas ardiam, o bolo-rei, roda magnífica de cores, frutas, pinhões, bocados de açúcar que lembravam neve e cujo esplendor ofuscava o dourado das filhós, os reflexos das garrafas de licor, o brilho dos copos de cristal.
Fernando, pequenino, queixo tocando a toalha de renda, olhava aqueles mistérios de cor e perfume e falava, falava, dizia coisas tão a propósito que as senhoras, enlevadas, não se cansavam de sorrir e felicitar a mãe que tal filho tinha. Então, a mais velha, cabeção de renda e camafeu de marfim a fechar as golas, pega na faca de prata e com solenidade, meticulosamente, parte o bolo. A criada ajuda à distribuição nos pratinhos de sobremesa.
— Agora, não se esqueçam: aquele ou aquela a quem calhar a fava terá de pagar o bolo-rei no ano que vem!
E entre comentários de enlevo, gula, elogios à tessitura e ponto ideal do levedo da massa, à abundância das frutas, à maciez e agrado do paladar, se comeu a sobremesa.
A prenda calhou à criada.
— Que sorte! Mostre lá!
— Olhe que medalha tão bonita! Parece uma libra de verdade. Até pode usar no fio que ninguém diz que não é autêntica.
— E tu, Fernandinho, não acabas de comer a tua fatia de bolo?
— Come que está bom e fofinho!
Fernando, subitamente silencioso, abanava a cabeça em negativas.
— Então, filho! Não sabes falar? Responde às senhoras: queres mais um bocadinho de bolo?
— Ao menos acaba esse!
— Está cansado, coitadinho! Deixe-o lá.
Fernando baixava a cabeça, cabelos lisos na testa. A noite ia adiantada. A Miguel Bombarda, onde moravam, ainda ficava longe. Sim, minha senhora, amanhã às oito cá estarei, se Deus quiser, para cortar o vestido novo e pôr em prova a saia do “tailleur”. Foi uma noite muito bonita. Muito obrigada! Fernando dá um beijo às senhoras e agradece. Diz obrigado, Fernando!
Fernando deu o beijo às senhoras, esticou a cara, pôs-se em bicos dos pés, encheu os olhos de gratidão.
— Diz obrigado, filho! Mas o que te aconteceu?
— Deixe-o lá, coitadinho, perdeu a língua. É o sono, não é?
Descem o elevador, abrem a porta da rua. A mãe, agastada, ralha:
— Mas que vergonha! Umas senhoras tão boas, recebem-nos como família, estavas a portar-te tão bem e agora isto, nem uma palavra de agradecimento, nem boa noite, é esta a educação que te tenho dado? Se o teu pai fosse vivo…
Então, já na rua, o frio de Janeiro a gelar-lhe as mãos e o nariz, a névoa a transfigurar a rua e as pessoas, Fernando, finalmente, abre a boca e lá do fundo deixa voar o mistério da sua inesperada mudez:
— É que me calhou a fava, mãezinha. Eu sei que tu não tens dinheiro para, no ano que vem, comprares um bolo-rei igual àquele.
E, na palma da mão pequenina, cuspiu a fava que ali nascia, quente ainda, do esconderijo em que estivera.
E ainda hoje, nas horas mais dolorosas, quando se esquece de mastigar a comida que arrefece no tabuleiro da cantina e prefere viajar no país da infância, Fernando Midões, meu irmão mais antigo, sente a ternura solidária do abraço e o húmido das lágrimas com que a mãe o aconchegou junto de si.
Sem palavras, mãe.
Sem palavras.
Maria Rosa Colaço
Viagem com Homem dentro (adaptação)
Leiria, Editorial Diferença, 1998

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Objectivos Gerais Teste 9º ano - Nov. 2010


GRUPO I

- Interpretar um excerto de uma cena da obra vicentina Auto da Barca do inferno;
- Identificar os recursos expressivos;
- Conhecer os tipos de cómico e registos de língua;
- Conhecer as categorias do texto dramático;
- Relacionar várias cenas.

GRUPO II

CONHECIMENTO EXPLÍCITO DA LÍNGUA

- Classificar sintacticamente frases;
- Identificar as classes e subclasses de palavras e classificá-las quanto à flexão;
- Conhecer os processos de evolução da língua: evolução fonética e semântica; palavras divergentes/convergentes; via erudita/popular;
- Conjugar verbos em todos os tempos/modos e nas conjugações pronominais.

GRUPO IIII

Expressão escrita

sábado, 30 de outubro de 2010

Objectivos Gerais Teste 9º ano

GRUPO I

TEXTO A

- Interpretar um texto lírico (poema);
- Identificar recursos expressivos;
- Analisar formalmente um poema.

TEXTO B

- Interpretar um excerto de uma cena da obra vicentina Auto da Barca do inferno;
- Identificar os recursos expressivos;
- Conhecer os tipos de cómico e registos de língua;
- Conhecer as categorias do texto dramático;

GRUPO II

CONHECIMENTO EXPLÍCITO DA LÍNGUA

- Classificar sintacticamente frases;
- Identificar as classes e subclasses de palavras e classificá-las quanto à flexão;
- Conhecer os processos de evolução da língua;
- Conhecer as relações entre palavras: semântica; fonética e por hierarquia;
- Dividir e classificar orações.

GRUPO IIII

Expressão escrita

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Clube Contadores de Histórias


As crianças da mina



— Tenham cuidado ao sair. O solo está escorregadio — avisou o professor, enquanto abria a porta pesada.
Apesar da advertência, os alunos tiveram dificuldade em resistir a uma pequena corrida, tanto mais que tinham passado a manhã toda sentados. Iniciou-se uma perseguição, um soco derrapou no gelo fino, e a brincadeira acabou em gargalhadas.
De todos os alunos, apenas dois não partilharam o bom humor reinante.
— Louis e Tounet! — exclamou o professor. — O que fazem aqui? As aulas já acabaram.
— Queríamos despedir-nos de si — murmurou Tounet.
— Sim, queríamos — confirmou Louis. — Amanhã descemos os dois e não vamos poder voltar.
A fisionomia do professor alterou-se e uma profunda tristeza invadiu os seus olhos.
— Já me tinha esquecido — disse.
Ficou calado por uns instantes e depois apertou demoradamente a mão de cada um dos rapazes.
— Vão, meus filhos, e sejam prudentes.

Nessa noite de Inverno, Louis e Tounet deixaram a escola para sempre. No dia seguinte, iriam descer à mina. A mina engolia todas as crianças que fizessem dez anos. Era essa a regra, tanto em Saint-Étienne, como em toda a França. Os dois rapazes pararam para saudar o cavalinho Tambour pela última vez. Fizesse chuva ou sol, o animal esperava--os sempre por detrás da cerca.
— Adeus, Tambour, vamos sentir a tua falta.
Depois da despedida, abalaram para suas casas, que ficavam nos arredores da cidade.
Na manhã seguinte, às cinco horas, os mineiros partiram para o trabalho. Eram cinco os que afrontavam a noite e o vento glacial: Louis e o primo, Émile, acompanhados por Tounet, pelo pai deste, Isidore, e pelo irmão, Charles.


— Eis-nos chegados! — resmungou Isidore, depois de uns longos minutos de caminhada.
As instalações da mina surgiram, devagar, diante dos olhos do grupo. Por entre um conjunto de barracas, chaminés e carris de comboio, distinguiam-se as silhuetas de dois pontões. Estavam construídos na vertical dos poços e sustentavam os cabos dos ascensores.
Cada poço tinha um nome. Louis e Tounet trabalhariam no Châtelus nº 1. A estrutura de madeira erguia-se com orgulho junto da via-férrea que conduzia a Firminy. À entrada do pontão, começava todo um labirinto de construções e de passagens.
— Vamos perder-nos — inquietou-se Tounet.
Mas chegaram sem problemas ao local onde cada um recebia a sua lâmpada. Charles repetiu os avisos:

— Nunca levantem a grelha da vossa lâmpada! Se a chama ficar azulada e aumentar, é sinal de grisu.
O grisu, um gás explosivo libertado pelo carvão, estava sempre na origem de vários acidentes. Três anos antes, por exemplo, tinha matado 70 pessoas no poço Jabin, a leste da cidade. Para evitar as explosões, as lâmpadas estavam equipadas com uma fina grelha metálica, que impedia que o grisu que houvesse na mina se inflamasse. Daí o aviso de Charles.
De repente, sem se aperceberem, já estavam diante do elevador, à espera de que uma das cabinas subisse. Os cabos desfilavam a toda a velocidade. Ouvia-se um barulho de trovão algures.
— Tens medo? — perguntou Tounet a Louis.
— Não. E tu?
— Eu também não — retorquiu o rapazinho.
Mas, apesar do esforço para aparentar a calma, estavam ambos muito pálidos.
Por entre um barulho de ferragens, uma cabina surgiu do poço para os levar para o fundo da mina. Mal se instalaram, a porta fechou-se com um ruído surdo. De repente, como se o chão fugisse debaixo dos pés, a cabina desceu a pique com uma rapidez incrível. Os dois rapazinhos tiveram a impressão de que o estômago ia sair-lhes pela boca.
Um vento escaldante fustigou-lhes o rosto. Foram sacudidos com violência: da esquerda para a direita, de frente para trás, de encontro às grades, de encontro às pernas dos mineiros. O vazio abriu-se debaixo deles e Louis pensou que ia desmaiar. Depois, a cabina travou bruscamente e imobilizou-se.
— Chegámos, rapazes!
Viam finalmente a mina de que tanto tinham ouvido falar. Diante deles estava uma sala, da qual partiam duas galerias.


— Toca a andar! Não estamos aqui para ver a paisagem! — disse Charles.
As equipas separaram-se. Louis foi com Émile para o estaleiro, enquanto Tounet acompanhava o irmão às cavalariças.
A equipa encabeçada por Émile atravessou dezenas de galerias, embrenhando-se cada vez mais no coração da terra. Quando chegou ao estaleiro, Émile disse:
— É aqui! O tecto está quase a abater. Temos de substituir a madeira toda num percurso de dez metros.
Louis foi encarregado de transportar as pranchas desde o armazém, a algumas dezenas de metros dali. A temperatura era insuportável e o rapaz já tinha saudades do vento glacial do exterior. Por volta do meio-dia, a refeição magra que tinham levado foi bem-vinda. Os mineiros contaram histórias como a do cavalo que se embebedara com o vinho do palafreneiro ou a do mineiro que jurava ter encontrado Belzebu numa mina de Ricamarie.
Findas a refeição e a brincadeira, o trabalho foi retomado, no meio de uma humidade impressionante. Por volta das quatro da tarde, iniciou-se o regresso à superfície. Louis reencontrou Tounet, que tinha sido encarregado de conduzir um dos cavalos da mina.
— O meu cavalo chama-se Apolo — disse, com orgulho.
Os dois amigos tinham mil coisas a contar um ao outro, depois deste primeiro dia. De volta a casa, tomaram banho, a última tarefa da jornada de um mineiro. Mas Louis sabia, por ter visto outros mineiros, que a poeira do carvão não sairia só com um banho…
As duas crianças desembaraçaram-se bem nas primeiras semanas de trabalho. Contudo, um incidente entre Louis e Ratel, um dos encarregados da mina, veio estragar o bom ambiente. Ao manobrar um tronco pesado demais, Louis magoou acidentalmente o encarregado num joelho.
— Imbecil! — gritou o homem. — Nem vês o que fazes!
— É o meu primito. Está a começar — desculpou-o Émile.
— É teu primo? Então tiro-te dois francos por não o teres ensinado a respeitar os superiores. Tu — continuou, falando com Louis — vens comigo. Tenho um óptimo trabalho para um idiota do teu estilo.
Louis foi empurrar vagões no sector oeste da mina, uma zona em que as galerias eram antigas, confusas e perigosas. Os mineiros chamavam a este sector “O Inferno”. Enquanto empurrava um vagão carregado com mais de cem quilos de carvão, Louis tentava encontrar um apoio para fincar os pés no solo lamacento. O seu trabalho consistia em conduzir as carruagens desde o local de extracção do carvão até à galeria principal. Aqui, os vagões eram atrelados de forma a constituir pequenos comboios, que iriam ser puxados por cavalos até à cabina.
“O Inferno” fazia jus ao nome: respirava-se com muita dificuldade e o calor era mais forte do que em qualquer outro lado da mina. Ainda por cima, o local tinha fama de estar cheio de grisu, devido às características do carvão aí existente. Os mineiros tinham muito cuidado com as candeias e respeitavam todas as normas de segurança, para não pôr em perigo a sua vida e a dos seus camaradas de trabalho.

continua…

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Objectivos 8º ano


- Interpretar/compreender um excerto da obra O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, de Jorge Amado;
- Conhecer as categorias da Narrativa;
- Identificar os recursos estilísticos;
- Conhecer os modos de representação e expressão.

Grupo II (Conhecimento Explícito da Língua)
- Identificar as classes e subclasses de palavras*:
- Classificar as palavras quanto à flexão;
- Classificar sintacticamente frases.
- Dividir e classificar orações;
- Transformar discurso directo em indirecto (vice-versa).
* Verbos (regulares/Irregulares; Copulativos, Transitivos e Intransitivos; Conjugações - 1ª; 2ª; 3ª; Modos: Indicativo; Conjuntivo; Condicional; Imperativo; Infinitivo; Tempos simples e Compostos; Conjugação pronominal e pronominal reflexa).
Grupo III- Produção de um texto relacionado com os temas abordados.

domingo, 30 de maio de 2010

Clube Contadores de Histórias





O Espelho

Humberto fecha as portas de casa com estrondo e atira a pasta para um canto.
– Outra vez um 1 a matemática!
– Ah, que figura horrorosa! – grita Humberto para a imagem que vê no espelho.
A imagem à sua frente não parece estar com medo e devolve-lhe o olhar, furiosa. Até levanta a mão e aponta para Humberto.
– Tu é que és ridículo!
– Eu? – gagueja Humberto.
– Olha só os teus pés, que tropeçam em tudo!
Ou as tuas mãos desajeitadas, que partem tudo!
Ou a tua boca, que gagueja de cada vez que lês!
Ou o teu pescoço, que nunca está limpo!
Ou os teus olhos, que durante as aulas estão sempre a olhar lá para fora!
Ou a tua cabeça, que nunca se lembra de todos os trabalhos de casa que trazes para fazer e se engana sempre nas contas de matemática.
– “Sempre… Nunca… Mal…” Passo o dia todo a ouvir isto! Não preciso que mo andes sempre a repetir! – Helmut está furioso. Ninguém gosta que uma imagem o acuse desta forma! Prepara a mão para infligir uma bofetada bem forte a si próprio… mas alguma coisa se mexe atrás dele…
Uma segunda imagem aparece no espelho por detrás da sua. É a da irmã, Eva, que se põe em frente dele e lhe diz:
– Eu sei que os teus pés correm tanto, que conseguem afastar quem me quer insultar.
Eu sei que as tuas mãos fazem aviões de papel que voam como nenhuns outros.
Eu sei que a tua boca consegue contar histórias que, embora não sendo verdadeiras, são muito cativantes.
Eu sei que os teus olhos conseguem ver lagartas e borboletas maravilhosas que eu nunca veria.
E eu sei que a tua cabeça está cheia de ideias que não queres contar a mais ninguém.
Humberto espanta-se.
– E és tu que dizes isso? Tu, que te queixas cem vezes ao dia que tens um irmão tão palerma?
– Sim – responde Eva. – Dizemos sempre mal daqueles que não compreendemos. – Eva aponta com o dedo para a imagem atrás das costas. – Mas nem vale a pena tentar explicar-
-lhe isso, porque ela não entende essas coisas.


Wolfgang Wagerer

Jutta Modler (org.)
Brücken Bauen
Wien, Herder, 1987

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Objectivos para o teste 8º ano

Grupo I
- Interpretar um excerto da obra Falar Verdade a Mentir, de Almeida Garrett;
- Conhecer as categorias do texto Dramático e as suas principais características:
- Identificar os tipos de cómico;
- Conhecer alguns dados biográficos e bibliográficos do autor da obra em estudo.
Grupo II (Conhecimento Explícito da Língua)
- Identificar as classes e subclasses de palavras*:
- Classificar as palavras quanto à flexão;
- Classificar sintacticamente frases.
- Dividir e classificar orações;
- Transformar discurso directo em indirecto (vice-versa).
* Verbos (regulares/Irregulares; Copulativos, Transitivos e Intransitivos; Conjugações - 1ª; 2ª; 3ª; Modos: Indicativo; Conjuntivo; Condicional; Imperativo; Infinitivo; Tempos simples e Compostos; Conjugação pronominal e pronominal reflexa);
Grupo III- Produção de um texto relacionado com os temas abordados.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Teste de compreensão Global da obra

Clica no link abaixo apresentado e realiza o teste disponível para avaliares os teus conhecimentos sobre a obra que estás, neste momento, a estudar FALAR VERDADE A MENTIR, de Almeida Garrett.

http://www.malhatlantica.pt/lpo/JOAOV/LeituraIntegral.htm

quarta-feira, 17 de março de 2010

Falar Verdade a Mentir - a reportagem






http://videos.sapo.pt/u0qzK67KAGbMsjDzH0iL

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Fichas de trabalho

Clica nas imagens para acederes às fichas de trabalho.






segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Objectivos para o teste de avaliação sumativa - 8º ano


Grupo I
- Reconhecer e compreender textos da tradição oral;
- Conhecer as principais características das lendas e dos contos populares:
- Conhecer os tipos de lenda.

Grupo II (Conhecimento Explícito da Língua)

- Identificar as classes e subclasses de palavras*:
- Classificar as palavras quanto à flexão;
- Classificar sintacticamente frases.
- Identificar os processos de formação de palavras: composição; derivação (por prefixação; por sufixação; por prefixação e sufixação; por parassíntese; derivação imprópria e regressiva);
* Verbos (regulares/Irregulares; Copulativos, Transitivos e Intransitivos; Conjugações - 1ª; 2ª; 3ª; Modos: Indicativo; Conjuntivo; Condicional; Imperativo; Infinitivo; Tempos simples e Compostos; Conjugação pronominal e pronominal reflexa);


Grupo III
- Produção de um texto relacionado com os temas abordados.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Clube Contadores de Histórias


OS TAPETES PARA A PROCISSÃO




Prólogo

A semana antes da Páscoa chama-se Semana Santa. Em Antigua, uma cidade colonial construída pelo Espanhóis no final do século XVI, procissões de pessoas costumam deambular pelas ruas, transportando estátuas velhas de séculos, numa tentativa de fazer reviver a morte e a ressurreição de Cristo. Esta tradição é tão forte hoje quanto o era no tempo dos Espanhóis, embora tenha sido transformada pelo contacto com a cultura indígena da Guatemala.
Como penhor da sua fé, os habitantes fazem tapetes de serradura, flores e frutas coloridas, que são colocados no pavimento por onde passarão as procissões. Todos os anos são feitos tapetes com desenhos diferentes. E todos os anos as procissões os calcam, destruindo os seus padrões tão primorosamente desenhados!
Passei a infância na Guatemala. A minha família era chinesa e adepta da religião budista, mas a Semana Santa era diferente de todas as outras, mesmo para uma família tão tradicional como a nossa. Juntávamo-nos sempre nos passeios com os vizinhos para ver os tapetes, antes de os cortejos os pisarem. Enquanto assistia à procissão, sentia que a história de que falavam estava a acontecer naquele preciso momento. A beleza daqueles tapetes efémeros, feitos com tanto amor, ficou para sempre na minha memória e no meu coração.



A cor tradicional da Semana Santa é o roxo. Por isso é que a minha mãe vende tantos rolos de tecido dessa cor durante a época da Páscoa. Um dia, o carteiro trouxe um envelope com letras prateadas impressas.
— Um convite! — exclamou a minha mãe.
Como não sabia ler espanhol muito bem, deu-o a ler à minha irmã.
— Diz aqui que o tio Colocho e a tia Malía nos convidam para o baptizado do bebé, no Domingo de Páscoa.
Um pedaço de papel escrito em chinês caiu do envelope. A minha mãe leu-o, porque nós não conseguíamos ler chinês, embora oralmente percebêssemos tudo o que era dito em casa.
— Também nos convidam para passar lá a Semana Santa antes do baptismo. Claro que vamos! — exclamou a minha mãe, cheia de alegria.
Todos saltámos de contentamento.
Na Quinta-Feira Santa, enfiámo-nos no nosso carro ferrugento e viajámos para a cidade de Antigua. O meu pai encheu a bagageira com as nossas coisas, às quais juntou uma caixa de refrigerantes e um cesto de laranjas. Durante a viagem, cantámos como se fossemos autênticos mariachis. Soubemos que tínhamos chegado a Antigua porque o carro começou, de repente, a percorrer ruas empedradas.
O tio Colocho, a tia Malía e os nossos primos estavam à nossa espera à porta da loja. Para cabermos todos ao almoço, tinham colocado uma mesa enorme no centro do estabelecimento.
Durante a refeição, semeada de palavras cantonesas, contámos anedotas aos nossos primos e fartámo-nos de rir.
De repente, algo me chamou a atenção no canto da sala. Era uma estatueta da Virgem de Guadalupe, colocada junto de Kuan Yin, a deusa chinesa. Pareciam amigas, envolvidas pelo incenso que ardia junto delas.
A minha mãe disse à tia Malía em chinês:
— Lembras-te de quando éramos pequenas na China e íamos para a ponte para ver a corrida dos barcos no rio?
A tia Malía sorriu:
— Era o Festival do Barco do Dragão. Nesse dia, costumávamos atirar tamais[1] chineses ao rio, para nos darem sorte.
Riram-se muito. Depois ficaram em silêncio, talvez a recordar aqueles dias longínquos. A tia Malía disse então:
— Meninos, amanhã de madrugada vai realizar-se a procissão que sai de La Merced, a igreja que fica ao fundo da rua. Os vizinhos estão a fazer tapetes de serradura por todo o bairro. Ide ver!
Tapetes de serradura!
O passeio estava cheio de redes com agulhas de pinheiro, girassóis, e flores roxas e amarelas. Havia sacas cheias de serradura tingida de cores brilhantes: magenta, turquesa, laranja e verde. Vagens de marfim vegetal enchiam o ar com o seu cheirinho a mar e a palmeiras.
Don Ortiz, que vivia do outro lado da rua, estava a fazer um tapete. Primeiro, colocava no chão uma camada de serradura natural e molhava-a. Depois, os seus ajudantes faziam desenhos com serradura colorida, por cima dessa camada. Havia tábuas suspensas sobre o tapete para poderem decorar tudo sem estragar o que já tinham feito. Usavam peneiras para espalhar a serradura colorida por cima de estênciles de cartão, perfurados de forma a formar padrões. Mediam os desenhos com cuidado, e segundo as instruções de Don Ortiz. Por fim, um ajudante percorria o tapete todo com um borrifador de água, para que a serradura se mantivesse bem plana.
Era tão bonito! Parecia um tapete verdadeiro!
— Queres ajudar, minha menina? — perguntou Don Ortiz, quando me viu a olhar.
Dei um salto e respondi:
— Quero, sim.
— Então traz aquela serradura vermelha para as rosas e a farinha para os lírios. E vê se encontras a peneira mais pequena, porque estas flores são muito delicadas.
Por cima da tapeçaria de serradura colorida, os artesãos colocavam flores de marfim vegetal e agulhas de pinheiro. Um a um, os tapetes foram aparecendo pela rua abaixo. Estava já escuro quando a tia Malía disse:
— Vão para a cama. A procissão sai de manhã bem cedo.

Sexta-Feira Santa amanheceu enevoada. Havia muita gente à porta da igreja. Don Ortiz, vestido de nazareno, viu-nos e disse:
— Meninos, querem os restos de serradura?
— Queremos, sim — respondi, excitada. — Vamos fazer um tapete pequenino, com o desenho de uma casa. Despachem-se, vem aí a procissão!
Fizemos rapidamente uma cabaninha com um telhado vermelho e paredes amarelas. Usamos serradura roxa para o céu e agulhas de pinheiro para a relva. Também colocamos ramos de buganvília. Pétalas das flores do pátio compuseram um coração e estrelas e os cometas foram feitos com bagos de arroz e girassóis. Ainda consegui colocar uma bordadura de laranjas e regar tudo com água. Que bonito!
De repente, alguém sussurrou:
— Vem aí a procissão!
Ao som de um tambor, todos os nazarenos colocaram uma plataforma de madeira enorme aos ombros, na qual estava uma estátua de Jesus a carregar a Cruz. A estátua era rodeada por orquídeas e musgo da floresta e os seus olhos brilhavam. O meu coração vibrava, embora a coroa de espinhos e o sangue da face me fizessem tremer. Todos se ajoelharam.
O Cristo movia-se ao som da música triste tocada pela banda que fechava a procissão. Parecia uma pessoa real. Os nazarenos, vestidos de roxo e curvados sob o peso do andor, estavam envoltos por uma nuvem de incenso branco.
Seguia-se o andor da Virgem Maria, carregado por mulheres. Uma espada espetada no coração de Nossa Senhora simbolizava a sua enorme dor. Chorava lágrimas de cristal porque o seu Filho em breve morreria. A banda tocava uma marcha destinada a consolá-la a ela e a nós.
A procissão tinha finalmente atingido a nossa parte da rua. De repente, dei-me conta de que os nazarenos iriam calcar o nosso lindo tapete! A cada passo que eles davam, o meu coração sentia-se mais apertado. Então, pus-me em frente do nosso tapete. Não queria que o destruíssem. “Não passem por aqui! Não passem por aqui!”, dizia mentalmente.
Don Ortiz pegou-me na mão e puxou-me dali para fora.
— Filha, isto faz parte da tradição. Fazemos destes tapetes ofertas à vida. Não reparaste nisso? As flores desabrocham e logo morrem, mas deixam sementes para que outras cresçam. À morte segue-se a vida e à vida segue-se a morte.
Não consegui detê-los. Passo a passo, os pés dos nazarenos rasgaram a relva, as paredes e o telhado da nossa casa. Apagaram as estrelas e os cometas. Esborrataram as cores. Pisaram as flores e espalharam as laranjas com os pés. O nosso tapete era agora um rio triste que corria pelo meio da rua, cheirando a mar e a palmeiras.
Seguimos a banda. Debaixo de um sol escaldante, a procissão da Semana Santa desenrolava-se lentamente pelas ruas empedradas. Cristo já tinha morrido a estas horas. Havia homens vestidos como romanos e nazarenos vestidos de negro. Estes transportavam o Cristo morto num caixão magnífico, feito de ouro e cristal.
Deambulámos pelas ruas, em busca de outras procissões. Na maioria das vezes, apenas encontrámos vestígios arruinados de tapetes maravilhosos.
Nessa noite, chegámos a casa cansados e tristes.
No dia seguinte, a minha mãe e a tia Malía fizeram tamais chineses para o baptizado.
— As procissões são tão comoventes — disseram em chinês.
A minha mãe acrescentou:
— São tão bonitas como os festivais que celebramos na China. Realizam-se todos os anos, mas são sempre diferentes.
No Domingo de Páscoa, a igreja estava engalanada com cores alegres porque era o dia da Ressurreição, o dia em que Cristo voltou à vida. O meu priminho foi baptizado com o nome de Angel. Angel Sem Quan. Quando lhe deitaram água sobre a cabeça, desatou a chorar e o seu pranto ecoou pela cúpula da igreja.
Nessa mesma tarde, na festa, Don Ortiz falou sobre o tapete que faríamos no ano seguinte. Falou de um com pombas e pães com forma de crocodilos. Pensei logo em fazer um com borboletas e pássaros. Don Ortiz tinha razão. Depois de o tapete que tínhamos feito para a procissão ter sido destruído, podíamos pensar em fazer logo outro.
No seu pequeno altar, a Virgem de Guadalupe e a deusa Kuan Yin brilhavam à luz da vela.
Fizemos uma grande festa no pátio. Coube-me a mim dar a última pancada no pote de barro que tínhamos suspenso. Parti-o e os rebuçados aterraram todos na minha cabeça. O meu priminho, o Angel, achou muita graça.
E assim terminou a Semana Santa.



Amelia Lau Carling
Sawdust Carpets
Toronto, Groundwood Books, 2005
(Tradução e adaptação)